Durante algumas gerações, a historinha do Peter Pan foi conhecida e apreciada como um clássico infantil de boa qualidade. Lembro-me de ter lido muitas vezes em minha infância e depois de contá-la para meus filhos pequenos. Na época, penso que ninguém podia imaginar a sutileza que havia por trás de um lindo conto de fadas.
Contudo,
o exemplo do garoto que não queria crescer e que apenas queria se divertir,
passou a ser o desejo de muitos adolescentes e adultos da nossa geração. O
mundo atual está repleto de pessoas com corpos de adultos e uma estrutura
emocional e mental juvenil. Decidiram interromper o crescimento normal para
permanecerem garotinhos e garotinhas, só relacionando-se com pessoas mais
jovens, cultivando conversas infantis ou inúteis, sem querer assumir compromissos
e responsabilidades. Não respeitam as autoridades, por isso, não param nos empregos
e sentem-se os únicos donos do seu próprio nariz para fazer aquilo que querem
na hora que desejam, mesmo que corram risco de morte. Infelizmente, a maioria
deste grupo é de pessoas dependentes dos pais a vida toda (financeiramente ou
emocionalmente) para que, desta forma, possam se divertir com amigos em
baladas, barzinhos, bebidas, drogas, viagens, ou então, para não fazer nada.
Entretanto,
o que poucos sabem, é que a escolha do personagem Peter Pan o deixa defeituoso,
antipático, anti-herói e até repelente. Diferente dos outros meninos, que decidiram voltar para casa com Wendy e serem adotados pelos pais dela, Peter não aceitou. Ele não queria frequentar a escola, ter de trabalhar e parar de brincar como sempre fez. Escolheu, portanto, voltar sozinho para a Terra do Nunca. Na vida real, os resultados não
são diferentes, os consultórios psiquiátricos estão cheios de pessoas normais com
a síndrome do Peter Pan, tratando as consequências desastrosas e muitas vezes
irreversíveis das escolhas infantis que fizeram ainda jovens.
Em
nossa vida cristã também podemos ser infectados com essa síndrome terrível
quando nos deixamos influenciar pelo modelo acomodado do materialismo desse
mundo, sem levar a sério nosso compromisso com Cristo. Nosso contentamento está
em apenas ouvir bons sermões aos domingos, fazer boas leituras, ter bons
relacionamentos, assistir bons filmes, ouvir boas músicas, ter bons papos,
frequentar bons restaurantes, fazer boas viagens com a família ou amigos, usar
boas roupas de grifes famosas, enfim, buscamos apenas entretenimentos que nos
dão algum tipo de prazer e rejeitamos qualquer tipo de responsabilidade com o
reino de Deus e com o corpo de Cristo, que acabam requerendo nosso tempo, dinheiro,
ou até mesmo algum sacrifício abnegado.
Será
que esse é o estilo de vida que devemos ter como cristãs que dizem amar a Deus
de todo o coração? Todas essas coisas mencionadas são bênçãos de Deus e alegram
o coração, mas a nossa vida não deve girar em torno delas domingo após domingo,
sem sentirmos um desejo crescente de pensar nas coisas do alto, onde Cristo
está. Temos um modelo de maturidade e de crescimento a ser imitado que é do
autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2). Ele teve alegrias e bênçãos aqui na
terra, mas não as trocou, em nenhum momento, pelo compromisso que tinha com o
reino de Deus, ainda que isso fosse levá-lo ao sofrimento e sofrimento de cruz.
Ele disse: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou”
(Jo.4.34).
Alguns sinais são evidenciados quando estamos
crescendo de acordo com J.L.Packer em
seu livro “A descoberta da santidade”. O primeiro deles é um contentamento
crescente em louvar a Deus, com um descontentamento crescente diante do louvor
dado a si mesmo. O salmista clama: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu
nome dá glória” (Sl115.1)
O
segundo sinal é um desejo crescente pela bondade e doação e um evidente
desprazer por si próprio. Jesus foi bondoso e entregou-se sem limites durante
todo o ministério. Na agonia da cruz, Ele orou para que seus executores fossem
perdoados (Lc 23.24); pensou em sua mãe, deixando João encarregado de cuidar
dela (Jo 19.26,27) e preocupou-se com o ladrão arrependido, prometendo-lhe salvação
(Lc 23.43).
O
terceiro sinal é uma paixão pela justiça pessoal, com grande desprazer diante
da impureza e imoralidade do mundo ao redor. É quando o cristão mostra uma
profunda dor por Deus estar sendo desonrando e provocado, quando alguém ou ele
mesmo tem comportamento abominável.
O
quarto sinal é um zelo crescente pela causa divina, tendo maior disposição de
posicionar-se firmemente para vê-la avançando. Davi escreveu: “Bendito seja
Deus, rocha minha, que me adestra as mãos para a batalha” (Sl1 44.11). É estar
pronto para ser posto na linha da frente da causa divina sem medir esforços.
O
quinto sinal é ter muita paciência e boa vontade em esperar em Deus e submeter-se
à sua vontade, exercendo uma maneira adulta de petição, modelada pelo exemplo
de Jesus no Getsêmani: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!
Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres”. É reconhecer e aprender
com humildade e coragem que tudo que Deus faz é o melhor.
Querida
amiga, fomos chamadas para crescer e não para interromper nosso crescimento a
exemplo do personagem “Peter Pan”. Que sinais estão sendo mais evidenciados em
nossas vidas? Que pensamentos são mais frequentes? De maturidade cristã ou de
preguiça e infantilidade mundana? Caso queiramos fugir da síndrome de Peter Pan,
temos de seguir o exemplo de humildade e submissão que Jesus nos ensinou,
fazendo em tudo a vontade do Pai.